sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Lugar de Criança

Amanhã começa um novo final de semana, que delícia! E me lembrei do último, que tive a oportunidade de vivenciar dois tipos diferentes de educar minha filha. Não planejei que ia aplicar um método no sábado e outro no domingo, simplesmente aconteceu. E foi assim...

Na manhã de sábado passado, resolvi que faria um dia gostoso para minha filha de 5 anos e disse que ela poderia escolher a programação do dia inteiro. Ela ligou para seus primos, filhos da minha irmã, virem nos visitar. Íamos ao clube, mas acabamos ficando em casa porque a menor de 8 meses, dormiu. A primeira coisa do dia foi a ida à piscina, em seguida almoço em uma lanchonete gostosa com direito à tão esperada batata frita, caminhada até a videolocadora (acho que só eu que ainda alugo filme no vídeo!) e lá a liberdade para escolher o filme. Em todos os momentos os adultos estavam como se estivessem "servindo à realeza". Sempre oferecendo inúmeras opções e as crianças frente a isso, nos requerendo mais. Na última etapa da “gincana”, alugando o filme, resolvemos encerrar com essa história que havia invertido nossos papéis. Levamos um filme que achamos adequado e as três crianças, dizendo não terem gostado da escolha, voltaram reclamando durante o caminho. Disse que eles haviam perdido o direito de escolher, porque ninguém havia conseguido ceder ao gosto do outro. Todos queriam alugar o filme que lhe parecia interessante, mas que os demais não tinham gostado.

Com o filme na TV, pipoca quentinha e sofá gostoso, todos se acalmaram. O filme era O Pequeno Príncipe, um pouco musicado demais, mas interessante. Cada um teve que aceitar algumas coisas que não estavam gostando e ir até o final. Tentaram desistir algumas vezes. O mais velho porque não gostou da quantidade de músicas, a do meio porque achou que tinha muita cobra (seu bicho mais temido) e a menor (minha filha) porque achou difícil entender algumas partes.

No segundo dia, com meus outros sobrinhos (como é bom ter criança nos dois lados da família!) fui levada a vivenciar outra experiência, que já vivi inúmeras vezes nesses 5 anos. A situação nos permitia outra postura. Nós estávamos em um grande almoço e nesse dia a programação ia ser voltada para os interesses dos adultos. Não estávamos fazendo um programa para eles. 

No começo, ajudamos as crianças a resolver suas vergonhas e, na hora do almoço, acabamos dando uma garfada ou outra. Logo os primos estavam brincando sozinhos. Nenhum adulto estava à disposição para entretê-los e nem para mediar suas escolhas. Eles então tinham que se organizar sozinhos e como sabem fazer isso! Em pouco tempo pegaram as colchas do armário da minha sogra, as bonecas que ela brincava na infância e entraram no roupeiro. A brincadeira rolou solta a tarde inteira. 

Lá fora uma chuva de granizo interminável e dentro de casa, em volta da mesa, os adultos conversavam tranquilos. Lembrávamos histórias e ríamos das coincidências da vida, enquanto as crianças se divertiam.

Acho que quando as deixamos livres e ocupando o lugar de criança, que lhes pertence, elas se aquietam e nos respeitam mais. Estar à disposição confunde um pouco a mensagem que queremos passar de protetores, de pais seguros que sabem o que é melhor para seus filhos e que (tudo bem) não querem brincar o tempo todo. 

De vez em quando dar-lhes o direito de escolher o que querem fazer é bom, mas daqui para frente terei a certeza de que escolher TUDO pode ser demais para os poucos 5 anos que a minha menina tem.


segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Amigos suficientes

Minha filha começou hoje as aulas em uma nova escola. Como em todo começo ela se deparou com a ansiedade do desconhecido e o medo de não ser aceita. Ontem à noite, naquela"conversinha" boa antes de dormir, falávamos sobre o dia de hoje. Ela me disse que não queria ir à escola, pois estava acostumada com os amigos que já tinha. Eu disse que seria bom fazer novos amigos. A resposta que recebi foi surpreendente: "Os amigos que eu tenho são suficientes!". Eu de queixo caido (levei a vida inteira para ter certeza disso e ela aos 5 anos já sabe!), concordei, mas disse que mesmo assim ela iria para essa nova turma.

A entrada na sala foi difícil. Minha menina me abraçava e dizia que não queria entrar de jeito nenhum. Fomos ver uma amiga querida da turma do ano passado e essa fofa estava ótima. Isso nos ajudou, mas mesmo assim... Consegui que ela me deixasse entrar para ver a sala. Lá os cantos a atraíram pouco. Logo a professora ofereceu abrir um canto de massinha. Ufa! A massinha ajuda a acalmar e unir. Em poucos minutos todos estavam ao redor da mesa e enfim os outros cantos foram fechados e este se tornou o centro da sala. Percebi que era hora de sair. Dei ciao e falei que estaria tomando um café com minha amiga Bianca. Quase na porta resolvi testar a eficácia da minha estratégia e ao mesmo tempo testar o amor dela por mim. Pronto, consegui. Fui dar um beijo e ela caiu no choro. Sempre vi essa cena nas mães dos meus alunos e pensava que jamais faria isso. Como a gente se engana quando está do outro lado. Nunca tinha vivido a experiência de ser apenas mãe.

Na hora da saída a encontrei feliz, envolvida em uma atividade. Sua expressão era de conquista, de contentamento. Levei para casa minha pequena um pouco mais segura e feliz por ter conseguido vencer a timidez de começar a fazer novos amigos.

O que ela precisava era apenas de um leve empurrão, precisava que eu não desistisse, que a mantivesse corajosa. Mas como fazer isso se eu estava em dúvida? Acho que o aprendizado dessa história está aí. Por causa dela precisei deixar de lado algumas crenças e me empurrar, não desistir e ser corajosa. Como aprendemos com nossos filhos...

Agora ela está dormindo, e a preparação para o amanhã me provou que encorajar nossos filhos a superar desafios é a melhor forma de amá-los. Ela arrumou a mochila com muito carinho e atenção para não esquecer nada, lemos juntas a lista do lanche para escolher se ela levará lancheira ou não e separamos a roupa para o dia seguinte. Vejo minha mais velha se organizando para estar com o grupo de novos amigos e feliz por estar conseguindo guardar na memória a falta que suas grandes amigas fazem na hora do parque: "Mãe, não dá para ir no "polvo", nem brincar de espiã; falta a Bruna e a Duda para se juntar a mim e à Titi." E eu termino o dia dizendo:

"Vocês farão novos amigos, que se sentarão no "polvo", serão espiões e a vida vai seguindo em frente."

quarta-feira, 31 de março de 2010

A criatividade como ponto de partida

Começo hoje meu blog com alguns meses de atraso. Aqui vou postar minhas reflexões sobre educação e comportamento.
Nesses 12 anos de estudo na área pedagógica e de recursos humanos, percebo que muita coisa mudou em relação ao que acredito hoje, mas que sempre estive perto do que realizo atualmente. Iniciei minha careira em uma escola muito tradicional e em 6 meses percebi que eu não concordava com aquele modelo educacional. Foi quando comecei a me aprofundar nos estudos da faculdade, isso foi logo no primeiro ano, e uma nova realidade começou a aparecer para mim. Conheci pessoas interessantes e as aulas foram se tornando cada vez mais intrigantes. Senti que era hora de achar uma escola onde eu pudesse colocar em prática alguns dos ensinamentos que estava recebendo e de todas as idéias que se passavam na minha cabeça. Passei pela seleção rigorosa de uma escola que tem seu modelo de educação voltado para o desenvolvimento da criatividade, do pensamento crítico e da formação afetiva. Me encontrei! Puxa, como foram ricos os 4 anos que trabalhei naquela escola, que até hoje serve como base para a minha vida profissional e pessoal. Sua metodologia era (e ainda é!) ideal para o trabalho com as crianças da educação infantil, os profissionais além de competentes eram pessoas maravilhosas, com quem troquei muitas experiências.
Num dado momento percebi que eu precisava passar pelos muros dessa escola maravilhosa. Acho que nesse momento tomei uma decisão muito severa, emocionalmente não estava preparada para essa separação. Mas, de decisão tomada, fui procurar novos rumos para seguir. Por motivos pessoais, o caminho da minha vida profissional começou a mudar.
Comecei a estudar Recursos Humanos para entender um pouco mais dos adultos em seu processo de aprendizagem. Como os adultos se interessam por novos conteúdos? E por novos procedimentos e processos de trabalho e de organização pessoal? Na pós conheci o mundo das "pessoas corporativas" e fui tentar entender de perto o que mais fazia parte desse mundo. Consegui um emprego que me serviu de trampolim para o ingresso em uma das maiores empresas do mundo. Desde a invenção da lâmpada, essa empresa forma seus profissionais para serem grandes criadores, inventores; enfim CRIATIVOS. Isso sempre me chamou a atenção e meu caminho por mais diferente que estivesse sendo, continuava no mesmo curso: o da criação.
Seja com crianças ou com adultos, o processo de aprendizagem passa pelos seguintes pontos:
1. fortalecimento emocional
2. descoberta dos próprios interesses
3. processo criativo
Sendo assim, hoje consigo perceber que todo o meu desenvolvimento profissional, que iniciou há mais de 10 anos, já partia do mesmo princípio. Aliás, como disse uma professora do meu curso de arte para educadores: "Nosso processo profissional se inicia quando entramos pela primeira vez na escola, quando somos crianças e estamos enfrentando nossos primeiros desafios."